sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Aula 5: Escrever - as partes do texto argumentativo-dissertativo.

Introdução

É muito difícil escrever sem saber de onde estamos partindo. Se há um planejamento adequado e caminhos bem traçados, a introdução torna-se apenas uma questão de escolha dentro de várias possibilidades.

Na introdução, apresente o tema. Para fazê-lo, contextualize a situação-problema. Traga seu ponto de vista exposto claramente em uma tese. Não se esqueça de recuperar as palavras-chave, repetindo-as ou utilizando sinônimos ou ainda capturando idéias.

Cuidado para não esgotar o tema no 1º parágrafo. Este deve apenas apontar a questão que vai ser desenvolvida nos parágrafos seguintes.

Uma linha apenas para a introdução é inaceitável. Uma frase é pouco. Numa redação de 20 a 30 linhas, destine para a introdução entre 4 a 6 linhas (cerca de 20% do texto), escrevendo 2 ou 3 frases. Para fisgar o leitor, você pode fazer a 1ª frase do texto ser curta e impactante.

Como fazer a Introdução

1. Colocando e limitando o problema:

“O preconceito contra o negro é circunstância que se pode observar, no Brasil, em toda a história da sociedade contemporânea e deve ser visto sempre como resquício do sistema escravocrata a que o país esteve submetido desde sua descoberta até o fim do século XIX.”

2. Apresentando dados estatísticos: precisam ser acompanhados de idéias, sozinhos não bastam.

Atualmente, cerca de 58 milhões de brasileiros dormem com fome todos os dias, ou seja, um terço da população que se encontra abaixo da linha da pobreza e que forma os 33% de população marginalizada do nosso país.”

3. Contestando idéias: a sua posição é logo delineada, numa espécie de contra-argumentação.

Embora se divulgue largamente que a mulher está conquistando espaços tipicamente masculinos, é preciso observar que isso nem sempre se configura como realidade.”

4. Dividindo:

“Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários.”

5. Perguntando: a pergunta deve ser respondida ao longo da argumentação.

Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim.”

6. Citando diretamente:

“’As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora.’ O comentário, do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo.”

7. Citando indiretamente: esse recurso deve ser usado se você não souber textualmente a citação.

Para Marx, a religião é o ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: o marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo mesmo é ir às compras.”

8. Fazendo uma alusão histórica:

“Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota de acelerada competição.”

9. Atribuindo adjetivos: nos parágrafos seguintes, você deve explicar a escolha dos adjetivos.

Equivocada e pouco racional. Esta é a verdadeira adjetivação para a política educacional do governo.”

10. Fazendo uso de linguagem figurativa: ao longo do texto, devem ser acrescidas abordagens não-metafóricas.

“A corrupção é ferida nacional que todos nós, em conjunto esforço, devemos curar.”

Evite

1. O excesso de generalização;

2. Começar já no meio da questão, sem antes contextualizar o tema;

3. Pressupor que o leitor já sabe do que trata o texto;

4. Usar clichês, como: Na sociedade capitalista/globalizada em que vivemos (fuja disso!); Desde a Antiguidade / os tempos remotos; A cada dia que passa; O mundo de hoje.

Desenvolvimento

Em um espaço de 20 a 30 linhas, o mais comum é trabalhar com 2 argumentos, talvez 3; o 3º parágrafo do Desenvolvimento pode ser usado para a contra-argumentação.

Para cada argumento, um novo parágrafo. Escolha o de maior força para iniciar o Desenvolvimento. Cerca de 60% de sua redação deve corresponder ao desenvolvimento, pois é nele que está a força do texto argumentativo. Ou seja, num texto de 20 a 30 linhas, para cada um dos 2 ou 3 parágrafos de desenvolvimento, use de 6 a 9 linhas.

Se a instituição apresentar a temática e, em seguida, oferecer tópicos — como geralmente faz a Cespe, que elabora a prova do MPU — desenvolva cada um deles, mantendo a ordem em que apareceram. Evite a inversão. Use, no mínimo, um parágrafo para cada tópico.

No desenvolvimento, deve-se oferecer a progressão temática do texto, mantendo uma sequência lógica do pensamento. Aos responder aos tópicos, não se pode esquecer a ligação entre os parágrafos nem a articulação dos períodos. Não responda de forma fragmentada. Devem ser evitados os parágrafos longos ou curtos demais.

Como fazer os parágrafos de Desenvolvimento

Ao construir um parágrafo argumentativo, procure colocar a sua idéia central no início dele. Use a frase já feita para o planejamento — aquela que você encaixou em ARG. 1, ARG. 2 e ARG.3. Essa frase, que contém o resumo do seu argumento, pode ser chamada de tópico frasal.

As outras frases do parágrafo devem explanar (comentar) esse tópico proposto no início. Faça mais 1 ou 2 frases comentando o tópico frasal. Depois, traga provas para seus argumentos. Elas são importantes, pois dão validade às suas idéias, conferem-lhe estatuto de verdade.

Por fim, conclua o parágrafo com uma última frase.

Ao total, serão cerca de 5 frases para desenvolver cada um dos argumentos num texto de 20 a 30 linhas.

J É possível argumentar por:

1. Exemplificação simples: exposição de dados conhecidos, divulgados por meios de comunicação.

“A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Helena Guimarães de Castro, calcula em 7 milhões os casos mais graves, nos quais o atraso escolar é de duas séries ou mais.”

2. Argumentação histórica, fazendo trajetórias comparativas (sócio-político-culturais ou geográficas):

“O número de anos que um trabalhador coreano gastou estudando antes de obter um emprego chega a ser o dobro do tempo passado na escola por um empregado brasileiro. Essa diferença na qualificação da mão-de-obra faz a diferença...”

3. Hipótese:

Nesse ritmo, e com o decréscimo do número de jovens em idade escolar nas próximas gerações, será mais difícil para o Brasil aumentar sensivelmente a escolaridade de sua força de trabalho e, assim, conseguir competir em pé de igualdade com seus concorrentes comerciais da Ásia, por exemplo.”

4. Interrogação, questionamento, reflexão:

O que aconteceu historicamente? O que aconteceu socialmente? Desvalorizados no salário, desvalorizados no status, o próprio recrutamento desses professores passou a ser feito entre aqueles que tiveram acesso aos cursos de pior qualidade.”

5. Definição:

“Municipalização no ensino é quando o governo do Estado transfere para as prefeituras a responsabilidade de gerir escola; para tanto, é preciso transferir recursos, treinar pessoal técnico-administrativo e conseguir apoio da comunidade para o desenvolvimento integral dos alunos.”

6. Constatação:

É muito diferente a possibilidade de municipalização (da educação) em município rico, em município pobre, em município grande, em município pequeno.”

7. Questionamento de valores, juízos e conceitos:

Não adianta, por exemplo, pôr muito dinheiro nas escolas sem equacionar a formação dos professores — o problema central do ensino brasileiro; também não adianta ter políticas públicas que não levem em conta diferenças regionais.”

8. Antecipações eventuais de resultados:

Vejo quatro pontos fundamentais para melhorar a qualidade da escola. O primeiro é a busca da melhoria permanente de professores, o segundo é a direção da escola, o terceiro é a autonomia da escola, o último é a auto-avaliação. Caso as instituições se dignem a, insistentemente, serem seus próprios juízes, julgadores, teremos em meados do século XXI uma escola de verdade.”

9. Oferecimento de dados estatísticos:

De cada 1.000 alunos que se matriculam na primeira série de uma escola pública, apenas 43 se formarão dentro do tempo mínimo de 8 anos. Em média, os que conseguirão chegar ao final do curso demorarão 12 anos para obter seu diploma.”

10. Causa-consequência:

“A situação do Sul hoje é melhor do que a do Sudeste porque existe uma cultura de valorização da escola por parte da população que, inclusive, permeia e pressiona os governantes. Essa cultura não existe em outras regiões.”

Contra-argumentação

Também é possível contra-argumentar. Ou seja, refutar os argumentos que possam contrariar sua tese ou suas provas.

TESE: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.

CONTRA-ARGUMENTO:Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior”.

J Existem inúmeros outros tipos de argumentação, os chamados mistos. Misture dois ou mais aspectos nos parágrafos de Desenvolvimento.

Conclusão

Conclusão não é repetição de nada, mas apenas um resgate da idéias anteriores — resgate, não cópia —acrescidas de uma nota pessoal, uma crítica, uma sugestão ou, até mesmo, uma exposição da dificuldade em se posicionar sobre o tema. Apresente as considerações finais, reforçando a temática.

Ela deve retomar o pretexto inicial da redação. Assim, fica claro que sua relação de argumentos está chegando ao fim. Além disso, esse formato atesta que aquele pretexto não foi usado em vão.

Evite começar um novo assunto que não foi tratado no texto, citar exemplos, testemunhos ou dados novos. Isso deve ser feito no desenvolvimento.

Caso seu texto tenha cunho social, prefira sugerir uma boa saída para o problema levantado e discutido, uma hipótese de solução. A hipótese deve ser viável, exeqüível. Fuja de falsas soluções como “cada um deve fazer a sua parte”. Bom mesmo é mostrar, nessa hora, que você conhece um pouco de política, economia.

Para iniciar a conclusão, evite usar elementos coesivos já desgastados, como: Concluindo, Diante do exposto, Conforme o mencionado, Em suma, Por fim, Finalmente, Conclui-se que, Assim se conclui... Prefira: Diante disso, Dessa forma, Resta saber se... Você também pode iniciar o parágrafo com um substantivo ou com um verbo no infinitivo.

Como fazer a Conclusão

1. Resumindo a argumentação ou reapresentando e sintetizando os dados da tese: São os tipos mais comuns, mais fáceis, porém nem sempre os mais recomendados.

“É necessário implantarmos em nossas crianças o valor do respeito, da honra e da honestidade. Dessa forma, teremos uma sociedade digna e evoluída moralmente.”

2. Apontando soluções para os problemas discutidos no corpo da argumentação: Embora de caráter hipotético, a solução proposta deve ser viável.

“Portanto, é imprescindível estancar o desmatamento na Amazônia por meio de uma ação efetiva do governo junto àqueles que desmatam sem autorização.”

3. Interrogando (no sentido de ironia, humor ou crítica) ou apresentando um elemento novo, uma pequena história-encaixe, uma citação: Deve ser feito de forma crítica, provocando reflexão no leitor. Caso seja uma interrogação, nunca se dirija ao leitor; é você, não ele, quem deverá responder às questões levantadas.

“A lei que proíbe as chacotas com os políticos ri de quem? Da democracia brasileira. A decisão do TSE, se não fosse trágica, seria cômica.”

Jogos de palavras, desde que bem empregados, podem ser uma boa estratégia.

4. Fazendo uma previsão: Servirá de alerta de como o tema da redação se desenvolverá no futuro.

“A fim de os povos conquistarem a liberdade, os países desenvolvidos devem repensar sua política capitalista e promover uma política cuja preocupação seja oferecer às outras nações condições de ascenderem economicamente. A partir daí, a população mundial do século 21 poderá julgar-se livre.”

J Em linhas gerais, para escrever um texto você deve:

1. Escolher uma tese como ponto de partida;

2. Escolher dois ou três argumentos fortes, ou, no caso da proposta em tópicos, desenvolver cada um deles;

3. Não perder de vista as palavras-chave da tese;

4. Orientar a argumentação para uma conclusão coerente com a tese. Leia a introdução, pule o desenvolvimento e vá para a conclusão. Há coerência entre os dois? O círculo foi fechado?

Depois de escrito o texto, para verificar se não fugiu ao tema, observe se:

a) a(s) palavra-chave(s) se propaga(m) por todos os parágrafos.

b) você consegue esquematizar seu texto com clareza, unindo tese, argumentos e conclusão.

Redação Nota 10,0 (texto de aluno)

A expansão dos cursos ministrados à distância aproximou o ensino superior do cotidiano de milhões de brasileiros. Através de suas facilidades, tornou-se possível o acesso à educação de qualidade nas diversas camadas sociais e em qualquer parte do país. São, portanto, uma alternativa eficiente de inclusão educacional e social.

O território brasileiro é muito vasto e existem muitas regiões que não possuem instituições de ensino. São verdadeiros “vazios educacionais” que se espalham pelo interior dos estados e somente podem ser alcançados pela versatilidade da educação à distância (EAD). Outrossim, mesmo nas capitais, as universidades presenciais não são capazes de absorver a demanda pelo curso superior. Por outro lado, o Ead atende a um maior número de alunos, com professores capacitados e baixo custo.

Além disso, a qualidade dos cursos é garantida pelos avançados recursos tecnológicos que fornecem suporte para a interatividade professor/aluno. Mediante uma plataforma virtual, o estudante acessa conteúdo didático, aulas e conferências com outros alunos e professores. A teoria aprendida em casa é, então, ratificada com aulas práticas semelhantes às do modelo tradicional, nos pólos regionais. E a riqueza do método é também confirmada pela autonomia e responsabilidade adquiridas devido à participação ativa dos alunos e pela socialização devida ao contato entre estudantes das mais variadas realidades.

A educação à distância é a melhor forma de universalizar o ensino superior de modo rápido e eficiente. Sua versatilidade possibilita a atuação em qualquer região do país e a excelência de seu método garante a qualidade dos novos profissionais. E qualificação profissional significa qualidade de vida.


¨ Quer saber mais?

Roteiro de redação: lendo e argumentando. Antônio Carlos Viana (coord.), Ana Valença, Denise Porto Cardoso e Sônia Maria Machado. Scipione, 2000.

Redação: Ensino Médio, livro único. Sistema de Ensino Poliedro, por Esther Pereira Silveira Rosado. 1ª edição. 2010.

diretoriojuridico.blogspot.com

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