sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Aula 10: Revisar e reescrever o texto.

J Mesmo escritores tarimbados revisam muito seus textos antes de expô-los à leitura. Por que não você, candidato? Antes de entregar a redação para o exame da banca, é preciso saber se o que você quis dizer foi propriamente dito. A principal qualidade numa revisão é a busca pela clareza. Faça a si mesmo estas perguntas:

  • O seu texto pode ser compreendido sem esforço de interpretação do leitor?
  • Há partes que precisam ser relidas para um melhor entendimento?
  • As frases estão claras?
  • Você seguiu o planejamento feito antes de começar a escrever sua redação?

Com o planejamento feito, a ordem é deixar fluir o pensamento e escrever. Depois de terminado o rascunho, é imprescindível uma leitura atenta, a fim não apenas de corrigir possíveis erros, como também de melhorar o que já foi produzido. Na verdade, não somente uma leitura atenta, mas várias, pois o processo de revisão consiste basicamente em: ler – detectar o que há para ser refeito, trocado ou reordenado – reescrever – reler – detectar (...). O propósito de revisar é fazer com que o leitor não passe pelas mesmas dificuldades de compreensão pelas quais você passou ao ler seu próprio texto.

CUIDADOS NA REVISÃO

1. Confira se o texto flui ponto por ponto.

2. Está clara a questão posta em debate por seu texto? Há uma tese bem construída? Os argumentos respondem às questões da sua tese?

3. Consegue identificar trechos truncados, que dificultam a leitura? Há frases muito longas, com 4 ou mais linhas?

4. O texto mostra posicionamento em relação à questão debatida — ou seja, é predominantemente argumentativo? Ou apenas explica e expõe a opinião dos outros?

5. Quais os argumentos contrários aos defendidos por você? Você precisa conhecê-los para refutá-los, quando necessário, e para analisar a força dos seus próprios argumentos.

6. Corte afirmações e trechos irrelevantes. Cuidado com o uso dos parênteses no caso de informação que pode ser dispensada. Priorize pela concisão: se ela não faz falta, retire-a.

7. Reorganize, se for o caso. Seu argumento mais forte está no 1º parágrafo de desenvolvimento? O tópico frasal inicial ou fecha os parágrafos de desenvolvimento? Veja se trechos não deveriam ser mais bem distribuídos ou se valeria a pena usá-lo noutro ponto da redação.

8. Há lugares-comuns e/ou clichês em seu texto? Os argumentos fogem da obviedade do senso comum?

9. Existem elementos que não foram abordados, deixando lacunas de sentido? Faltaram referências?

10. Faça uma revisão gramatical cuidadosa. Cuide da pontuação, não se esqueça das vírgulas. O Novo Acordo Ortográfico não aboliu o acento da Língua Portuguesa, por isso acentue! Troque termos mal empregados quanto ao sentido. Confira se há repetições desnecessárias de palavras e utilize recursos de coesão para substituí-las ou retirá-las. Atente para a concordância, especialmente em períodos mais longos. Desfaça possíveis ambigüidades, muito comum com pronomes.

CUIDADOS NA REESCRITA DOS TEXTOS

Ambigüidade

É a duplicidade de sentidos de uma construção sintática. Ex.: “A violência tem causado temor na população devido ao seu crescimento”. O pronome seu refere-se a violência ou a população? Quem cresceu? Sugestão para desfazer a ambigüidade: “Em razão do seu crescimento, a violência tem causado temor na população”.

Cacófato

Palavra ou expressão obscena ou fora de contexto que resulta da junção da sílaba final de uma palavra com a inicial de outra. Exs.: “Governo confisca gado”. Sugestão de reescrita: “Gado é confiscado pelo governo”.

Estrangeirismo

Prefira palavras em português ou aportuguesadas. Se não puderem ser substituídos, use o termo entre aspas. Por exemplo, substitua “affair” por “caso amoroso”, “score” por “escore” (resultado), “deadline” por “data-limite”. Há algumas palavras, no entanto, que já caíram no uso corrente da língua, como “site” (sítio, lugar), “overdose” (superdose), “outdoor” (cartaz), “know-how” (conhecimento), workaholic (viciado em trabalho) e “impeachment” (destituição); ou que não têm correspondente em português, como “apartheid” e “web”.

“Gerundismo”

O uso do gerúndio não é proibido, como alguns acreditam, mas deve ser feito de maneira adequada.

Há o “bom gerúndio” nos quatro casos seguintes:

1) com valor condicional: “Estudando, consegue-se boa bagagem para a futura profissão”.

2) quando é combinado aos verbos auxiliares ir e vir, indicando uma ação que se desenvolve progressivamente: “as controvérsias sobre o uso de animais em experimentação científica vêm ganhando importante destaque”; “as universidades vem conseguindo excelentes descobertas científicas através de pesquisas realizadas com o uso de camundongos”.

3) nas orações subordinadas adverbiais modais, sob forma reduzida, como no enunciado do item 2): “quando é combinado com os verbos (...), indicando uma ação (...)”.

4) como estratégia de dissimulação de autoria: ao começar uma frase com condicionais, como "Pensando sob esse ponto de vista (...)", o enunciador não quer deixar evidente sua condição de autoria, manifesta no equivalente "Penso que".

Há também o “mau gerúndio”, como o “trenzinho verbal” (vou/vai/vão + estar + gerúndio) usado para indicar uma duração que a ação não pede. Ex.: “Nos próximos dias, o presidente vai estar viajando (...)”. Substitua por “viajará” ou até por “vai viajar”.

Oralidade

Substitua termos como “coisa”, “pensando direitinho”, “é claro que”, “querendo ou não” etc.

Pleonasmo/Redundância

Caracteriza-se pela expressão redundante e enfática de uma idéia, ou ao uso inútil de certas palavras ou expressões. É condenado nas situações em que é resultado de distração, não da intenção de dar ênfase a uma idéia. Evite: “unanimidade de todos”, “teto máximo” (de salário), entre muitas outras. Pleonasmo ruim na frase: “Projetos como por exemplo...” — corrija escolhendo ou como ou por exemplo.

Agora veja a diferença de qualidade entre as frases A — com exemplos de redundância — e a frase B — já corrigida:

A – “De acordo com a vontade unânime de todos os implicados na questão, fica estabelecido que a introdução e a incorporação de novos itens ao regulamento obedecerá a critérios a serem definidos oportunamente”.

B – “De acordo com a vontade de todos os implicados na questão, fica estabelecido que a introdução de itens ao regulamento será objeto de uma próxima discussão”.

ANÁLISE E REVISÃO DE TEXTOS DE CANDIDATOS

Tema 1: Elabore um texto dissertativo em que faça uma reflexão sobre os critérios que o levam a escolher um candidato no processo eleitoral. Que características (coerência ideológica, comportamento ético, valores religiosos, competência administrativa etc.) vocês espera que o político tenha? Você se sente influenciado pela propaganda eleitoral (de rádio, de TV e de rua), pela divulgação das pesquisas de intenção de voto, pela opinião de amigos, familiares, professores ou líderes religiosos, pela leitura de jornais e revistas ou por outros fatores?

Análise do tema 1

Leia cuidadosamente o enunciado. Ele é claro: há um verbo de ligação — faça — indicando o que você deve fazer. Logo em seguida, há duas perguntas complementares da orientação anterior.

Essa forma do enunciado nos leva à primeira possibilidade de planejamento: Da orientação tira-se a tese, das duas perguntas tiram-se dois argumentos. Porém lembre-se de que é apenas uma possibilidade dentre várias outras.

Os questionamentos são feitos diretamente ao candidato por meio do pronome de tratamento você. É preciso ter cuidado para não construir seu texto de maneira subjetiva, pessoal. Na verdade, o uso do pronome você é apenas uma estratégia para fazer-lhe refletir sobre o assunto. Seja objetivo e impessoal! As suas respostas, portanto, devem referir-se aos eleitores brasileiros em geral; devem ser uma crítica aos critérios usados pelos eleitores para escolher um candidato no processo eleitoral. Além desses critérios, discuta sobre as características necessárias a um político e a influência da mídia sobre a decisão do eleitor. É fundamental mostrar a consciência do poder do voto, como também a importância de definir critérios para a escolha dos candidatos.

Redação 1 (nota acima da média)

Aprendendo a votar (título)

Escolher um candidato às vésperas de eleições não é tarefa fácil. Especialmente, porque durante seu mandato pouco conhecemos sobre suas ações, pois mantêm-se praticamente anônimos. O horário eleitoral, diário e obrigatório, nos apresenta uma série de opções. Selecionar entre tantos, os melhores, é desconfortável — já que todos se acusam de corrupção, improbidade administrativa, morosidade etc.

O eleitor, por meio de mudanças, escolhe aquele candidato que já conhece, que por conseqüência reelege-se por três ou quatro vezes em cargos públicos diferentes. Votar significa delegar ao eleito, o direito de agir em nome de cada cidadão. Portanto, é necessário que cada brasileiro estabeleça critérios para sua decisão. Não basta apenas, que o candidato tenha formação nas melhores escolas e universidades do mundo. É importante, que pense no conjunto de seu país e lute, incansavelmente, para que os problemas sejam solucionados trazendo benefícios e resultados positivos à maioria da população, entenda-se, aos mais pobres.

O programa de governo de cada partido deve ser consultado visando uma escolha coerente com as urgências da população. Este aspecto precisa ser mais valioso do que aparência, sobrenome e valores religiosos dos candidatos. O eleitor que não se decide por sua própria vontade, acaba incentivado por pesquisas de opinião — optando por aquele que está em primeiro lugar, entendendo também ser vencedor das eleições. De fato, não está errado, também o é.

Cabe a cada votante acompanhar, após as eleições, o dia-a-dia daquele que recebeu sua predileção e confiança. Assim terá uma base sólida para a próxima “corrida”, sem deixar que seu voto mergulhe em seu próprio esquecimento.

Instruções para revisão e reescrita da Redação 1

As falhas da redação foram sublinhadas, corrija-as. Reveja: 1) redundância; 2) vocabulário impreciso; 3) uso de vírgulas; entre outros.

Comentários da banca avaliadora sobre a Redação 1: Unidade e coerência garantem a qualidade o texto

Coerente com a proposta, o texto trata da dificuldade de escolha dos candidatos em época de eleição — em geral um efeito da indecisão, do receio e da descrença na classe política. Num tom crítico e, ao mesmo tempo, sóbrio, o redator procurou mostrar que o comportamento da maioria da população tem raízes na falta de cultura política do país.

Os eleitores pouco acompanham a vida nacional e, em particular, as atividades dos políticos a quem concedem o seu voto. Isso acarreta certo conservadorismo, fruto antes do medo da mudança que da convicção em determinados valores. A troca de acusações feita pelos candidatos tende a alimentar na população a desconfiança que já nutre pela classe política como um todo. Indecisos, muitos eleitores se deixam influenciar pelos números divulgados às vésperas da eleição — afinal, há sempre quem torça pelo time que está ganhando.

O estudante demonstra estar consciente do poder de que é investido o voto e da importância de definir critérios para a escolha dos representantes. Valoriza sobretudo o compromisso do candidato com a população, principalmente com os seus estratos menos favorecidos (de resto, aqueles que mais precisam da ação do Estado). Revela ter visão crítica e capacidade de discernimento.

O parágrafo final alerta para a necessidade de acompanhar a vida política do país e, em especial, as ações daqueles a quem se confia o voto. Só assim se pode, de fato, aprender a votar. O título remete à conclusão, conferindo unidade ao texto.

Tema 2: Há uma série de iniciativas que buscam reduzir a violência nas grandes cidades brasileiras. Elas atuam sobre vários fatores que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania, qualidade de vida, identidade e família. Redija uma dissertação em que você discuta a questão da violência — suas causas, conseqüências e possíveis soluções.

Análise do tema 2

A proposta pede para discutir causas, conseqüências e possíveis soluções para a questão da violência nas grandes cidades brasileiras. Fuja do óbvio — dizer que a violência cresceu, que é assustadora etc. Discorra sobre as iniciativas que buscam reduzi-la. Contemple também alguns fatores (não obrigatoriamente todos) que influem na criminalidade, conforme listados anteriormente.

Fuja do sensacionalismo, tom comum para esse tipo de tema, em que nossas emoções são envolvidas. Esqueça a mídia e sua espetacularização da violência. Seja objetivo, fundamentando sua opinião com argumentos e provas baseados na racionalidade.

Atente para conceitos como cidadania, qualidade de vida e identidade; se tiver dúvidas sobre o que significam exatamente, prefira discorrer sobre os outros fatores apresentados, nos quais possa ter mais segurança.

Redação 2 (nota abaixo da média)

A difícil arte de viver (título)

Ao sair à rua, ir ao trabalho, à escola ou qualquer outro lugar, o brasileiro está sujeito aos mais diversos tipos de perigo. Com a violência que assombra as nossas vidas, nem em casa estamos seguros.

Não é mais possível identificar quem é polícia e quem é ladrão.

Tiroteios, brigas e assaltos ocorrem a qualquer hora e em qualquer lugar. Quem é o culpado disso?

Minha resposta: a sociedade. Vivemos em uma sociedade de pessoas egoístas e gananciosas que não estendem a mão para ajudar ninguém.

Com o decorrer dos anos, as pessoas, cada vez mais individualistas, são capazes de matar seu próprio irmão para conseguir o que querem.

Vivemos escorraçados da nossa própria liberdade. Mães sofrem ao ver os filhos partindo para a escola, sem saber se irão voltar.

Nosso país necessita de alguém com mão forte para administrá-lo: alguém que imponha respeito, que faça o policial perceber que o bandido não é ele, pelo contrário, seu trabalho é proteger a sociedade. Alguém que dê oportunidade a todos para trabalhar e constituir uma família saudável e educada.

Até agora não nasceu alguém assim. Perdemos a liberdade e o prazer de viver, pois a violência está explícita na porta de nossa casa.

Instruções para revisão e reescrita da Redação 2

As falhas da redação foram sublinhadas, corrija-as. Reveja: 1) desenvolvimento fraco (trata o problema apena de maneira geral; convém analisá-lo, isto é, dividi-lo em partes e examiná-las uma a uma); 2) tendência ao simplismo; 3) tom sensacionalista; 4) título muito genérico (pode servir a textos muito diferentes, que tratam de assuntos muito diversos.

Comentários da banca avaliadora sobre a Redação 2: Retórica tenta disfarçar simplismo de raciocínio

O texto apresenta um tom sensacionalista que poderia — e deveria — ser substituído por um tom mais racional e, portanto, mais adequado à análise de um problema.

Enquanto carrega nas tintas para pintar o quadro da violência no país, o autor do texto economiza na argumentação. Ao indagar quem é o “culpado” dessa situação, assume a crença em uma perspectiva individualista; entende a sociedade como um conjunto de indivíduos egoístas e gananciosos, cujas falhas de caráter são responsáveis pelo caos em que se encontra o país.

Coerente com essa linha de raciocínio, entende que a solução para o problema passa pelo indivíduo. Falta à sociedade um “salvador da pátria”, um indivíduo que, por suas características pessoais, seja capaz de resolver a situação.

O ideal seria analisar as causas do problema, em vez de procurar um culpado. O discurso desenvolvido tenta persuadir por meio da eloqüência de imagens, mas não resiste a uma análise racional. Peca pelo simplismo ao deixar de levar em consideração muitos elementos pertinentes à questão.

Para defender um ponto de vista, é preciso fundamentá-lo. A opinião, que é livre, deve ser construída com argumentos.

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